O desafio da casa cheia no Allianz Parque

O Palmeiras vem colecionando recordes desde a abertura do Allianz Parque, ainda em 2014. A torcida está entusiasmada não apenas com sua nova casa. A reformulação total do time de futebol, comandada por Alexandre Mattos, também tem estimulado os palestrinos a frequentarem os jogos de sua equipe.

Em paralelo a estas novidades, o programa de sócio-torcedor Avanti também se fortaleceu e superou recentemente a marca de 100 mil associados. Tornou-se o 10º no ranking de clubes com maior número de adeptos no planeta.

Essa fórmula vem rendendo ao clube uma renda bruta média de R$ 2.041.050,67 (jogos como mandante no Campeonato Paulista 2015). A renda líquida, cifra que exclui os custos para a realização de uma partida, tem valor médio de R$ 1.310.908,81. O público pagante é de 26.480 por jogo. O ticket médio tem sido de R$ 77,08.

O custo operacional por jogo tem sido, em média, 37,2% da arrecadação bruta. Ele se torna menor, proporcionalmente, em jogos com mais público. Isto porque os custos fixos são altos, mas os variáveis pesam menos. No jogo contra o Capivariano, o de maior público até o momento (com 32.124 pagantes) o custo operacional foi de 30,8% da renda bruta, cerca de R$ 795.231,05.

Todos estes números são impressionantes para o padrão do futebol brasileiro. Especialmente considerando-se que o campeonato em disputa é o torneio estadual, que já não movimenta e empolga as massas como em décadas passadas.

Mas Palmeiras e sua apaixonada podem alcançar um sucesso ainda maior se toparem abraçar juntos um outro desafio: o de conquistar a lotação máxima do Allianz Parque.

 

a ocupação do estádio

O novo estádio possui, originalmente, capacidade máxima para 43 mil pessoas, aproximadamente, em jogos de futebol. No entanto, a Polícia Militar determina a separação da torcida adversária com o isolamento de cerca de 4 mil assentos. Portanto, a capacidade máxima real que vem sendo aplicada em jogos oficiais é de 39 mil pessoas.

Assim, a lotação média do estádio palmeirense tem sido de 67,8%. Também é um excelente número para nossa realidade, mas o potencial dessa nova fase alviverde parece ser ainda maior.

Para atingir marcas ainda mais surpreendentes na lotação do Allianz Parque, e eliminar alguns clarões que ainda são vistos especialmente nos setores Centrais Oeste e Leste, o Palmeiras precisa buscar uma nova fórmula, mais ousada e já muito debatida nos papos de botequim dos palmeirenses. Diminuir o valor médio do ingresso, aumentar o público presente e manter as espetaculares arrecadações de bilheteria.

 

Por que lotar o estádio é importante?

Além de gerar mais um fato novo e quebrar novas marcas no futebol brasileiro, alcançar lotação média acima dos 95% traria inúmeros ganhos ao Palmeiras. Alguns mensuráveis e outros não-palpáveis, mas ainda assim muito importantes.

Um estádio próximo de sua lotação máxima, sem aqueles desagradáveis clarões nos setores centrais (os mais caros), pode ajudar a criar uma desejável atmosfera de caldeirão, como frequentemente havia no saudoso Palestra Itália. O adversário pode sentir-se intimidado, criando-se uma suposta vantagem técnica para os donos da casa. Fortalece-se a relação de paixão e fanatismo entre torcida e time. O jogo torna-se um produto muito melhor para ser transmitido na TV. Aumentam os lucros com a venda de produtos e alimentação dentro do estádio. A lista de vantagens é enorme e não precisaria acabar por aqui.

Mas talvez o principal ganho imaterial de encher as dependências do Allianz Parque em todos os jogos é tornar a procura por ingressos maior do que a oferta.

Embora possa ser cruel, é uma das leis mais básicas em uma economia de mercado e na lógica capitalista. Ter um estádio lotado em todos os jogos geraria uma competição entre os torcedores que desejam assistir aos jogos. Geraria expectativa para poder ver um próximo jogo em quem não conseguira comprar ingresso na partida anterior. Haveria uma espécie de fila de espera. Cada novo jogo iria se tornar um evento, desejado e concorrido. Tudo isso poderia acabar até justificando um aumento no preço dos ingressos.

Mas enquanto isso não acontecer e o estádio não tiver ocupação média próxima da total, os valores praticados pelo Palmeiras estão comprovadamente acima do que os torcedores estão dispostos a pagar.

O Palmeiras vê na dobradinha estádio/sócio-torcedor a sua carta de alforria, seu grito de independência da televisão. A cessão dos direitos de transmissão sempre foram disparadamente a maior fonte de receita dos clubes brasileiros, historicamente. Nos últimos anos, alguns times como Internacional e Grêmio saíram na frente e mostraram que esta realidade poderia ser mudada.

O clube paulista está sedento por esta independência. Mas não pode perder a oportunidade e o embalo de sua torcida. Não pode continuar praticando valores de ingressos superfaturados, deixando 10 mil assentos vazios em todo jogo.

 

BAIXAR O PREÇO PARA GANHAR MAIS

Existe um limite financeiro para o torcedor que costuma frequentar todos os jogos. Desonerar seu bolso trará somente benefícios a um número maior de alviverdes sedentos por ver seu time jogar. Para isso, o Palmeiras não precisa abrir mão de receitas. Trata-se de uma questão de ajuste fino na precificação dos ingressos.

Mapeamos o Allianz Parque com base no sistema de vendas online de ingresso  e calculamos a capacidade de cada um dos setores do estádio*.

Capacidade por Setor - Allianz Parque

*A capacidade de alguns poucos setores, indisponíveis para venda online, foram estimados com base na média de setores adjacentes ou similares.

As cadeiras Centrais (Oeste e Leste) são os setores mais caros do estádio e somente sócios-torcedores com planos mais altos (Ouro, Platina, Esmeralda e Diamante) possuem direito a descontos neles (respectivamente: 25%, 50%, 50% e 100%). Nestes setores, os preços praticados em jogos contra times de menor apelo têm sido em torno de R$ 200,00. Já em clássicos, os valores sobem, e variam entre R$ 250,00 e R$ 350,00.

Os setores centrais tem tido a menor taxa de lotação e parece ser onde o Palmeiras tem maior margem para fazer ajustes na sua prática de preços e descontos. É possível melhorar muito a taxa de ocupação. E sem precisar pesar ainda mais o bolso do torcedor.

Uma das formas de melhorar a lotação das áreas mais caras (Central Leste e Central Oeste), além da óbvia redução de preços, seria estender os descontos de meia-entrada (50%) para os torcedores mais assíduos às partidas, com rating de 5 estrelas. Assim, os planos Avanti mais caros continuam oferecendo vantagens extras, mas ao mesmo tempo, amplia-se a base de sócio-torcedores com direito à meia-entrada nos setores mais caros do estádio.

 

Brincando com os números

Com uma simples simulação de valor final para cada setor (já considerando o ticket médio com descontos que os sócios-torcedores teriam direito), nota-se que há margem para estimular a lotação total em todos os jogos sem perda de arrecadação. Apenas adotando-se preços mais racionais e amigáveis ao bolso do torcedor.

Imaginando um cenário para lotação máxima e mantendo a arrecadação média de cerca de 2 milhões de reais por partida, poderiam ser praticados os seguintes preços médios finais:

allianz-info-precos

Esta foi apenas uma simulação, entre tantas que se poderiam fazer.Um novo desafio está presente no cenário do atual fenômeno Palmeiras, torcida e Allianz Parque. Cabe unicamente ao clube aceitar encará-lo ou simplesmente ignorá-lo.

O que vem acontecendo entre palmeirenses, time e seu novo estádio é, sem dúvida, inédito na história do futebol brasileiro. Essa simbiose coincidiu com a reformulação completa do elenco, que para o torcedor significou o resgate do orgulho e a renovação da esperança. A oportunidade e o timing são únicos.

Resta saber se o Palmeiras vai, mais uma vez, ser pioneiro no futebol brasileiro ou se vai se acomodar com o que sua torcida já conquistou.

4 comentários sobre “O desafio da casa cheia no Allianz Parque

  1. Rodolfo disse:

    A análise está muito boa, mas tem um erro no minha opinião que já comentei com várias pessoas e que têm passado despercebido por todos da imprensa: só se tem divulgado o público pagante dos jogos!
    Portanto, esse público médio é o público médio pagante.
    Eu sou sócio Platina e nunca sou pagante.
    O setor onde a Mancha fica (gol norte) é de graça para sócios ouro, que custa 70 por mês. Sendo assim, imagino que todos os torcedores da Mancha são sócios Ouro e não entram no público pagante dos jogos.
    Quantos da Mancha por jogos? 3000?
    Eu chuto uns 5000 não pagantes nos jogos por serem Avanti.
    Não entendo como um ponto desse passa batido por tanta gente por tanto tempo.
    Abraço.
    Rodolfo Scolari

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  2. CadeVcNatel disse:

    Excelente matéria. Mas, existe um porém nesse quadro todo montado e que o autor deve ter esquecido. Seria em relação ao preço mais baixo cobrado (na curva norte). O mesmo não poderia ser baixado, pois, prejudicaria diretamente o Palmeiras por estarmos num imbróglio jurídico com a Wtorre. Caso percamos na justiça, serão cobrados os valores mais baixo de arquibancadas do ano anterior. Nos outros setores (exceto na curva norte), acho que deveriam baixar mesmo, principalmente nas centrais. E gostaria de saber o pq (??) dos preços da curva sul serem muito mais caros que na curva norte? No mais… pra saber o valor que o Paulo Nobre deseja, só ele responderia. Pois, vc colocou uma base: em torno de 2 milhões/jogo em rendas. Mas, será que o Nobre quer esse valor? Estaria ele satisfeito?

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  3. aquelemario disse:

    Rodolfo, bela questão a que você levantou. No entanto, no Allianz Parque não há as gratuidades comuns em estádios públicos como o Pacaembu. Mesmo crianças ou idosos pagam. Os únicos que eventualmente podem ser considerados não-pagantes são imprensa, staff do estádio, seguranças, polícia e convidados. Acredito que todos os torcedores que reservam seu ingresso “gratuitamente” (pelos planos que dão esse direito) são considerados pagantes. Mas seria legal se o Allianz Parque confirmasse isso.

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  4. Refém do Palmeiras (@Caio_MMendes) disse:

    “AQUELEMARIO”, Rodolfo. Acredito (só acho) que sim, computem os sócios torcedores que não pagam o ingresso em sim (platina, ouro caso vá no gol norte). Vejam nos borderôs do campeonato paulista, e verão que existem categorias nas quais o valor do ingresso aparece como ZERO, e ainda assim são computados para efeito de público (e renda correspondente a metade do valor). Senão o público total do gol norte seria sempre muito abaixo da capacidade, o que não é verdade. Abraço.

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